Meu nome é Antônio Henrique da Silva Gomes. Mas me chame apenas de Henrique. Tenho apenas 15 anos e moro numa cidadezinha chamada São Benedito, no interior do Ceará, a 315 km de distância de Fortaleza. Minha cidade é situada no alto de uma serra, a Serra da Ibiapaba, a 903 metros de altitude, cercada por mata atlântica, clima ameno e solo apropriado para a prática da agricultura.
Vivo num sítio a 7,6 km da sede de São Benedito. Santo Reis é o nome do sítio, o nome tem origem na tradição do povo o Rio Grande do Norte, que veio pra cá em meados do século XX, de cultuar os reis magos do Oriente que vieram dar presentes ao Menino Jesus.
Grandes partes dos meus familiares paternos mora aqui. Já os familiares da minha mãe moram em outros sítios no município vizinho, Ibiapina. Minha família é composta por cinco pessoas: meu pai Evangelista, 42 anos, mas costumam chamá-lo de Pelenga (deriva de Pelé, veio da época em que ele jogava futebol), minha mãe Telma, 36 anos, minhas irmãs Aldelênia, 14 anos, e Alessandra, 9 anos, e eu.
Meus pais são agricultores possuem um pequeno pedaço de terra que meu pai herdou de meu avô, Sebastião Gomes. Em suas terras ele cultiva, principalmente, chuchu, batata, cenoura, pimentão, milho, cana-de-açúcar, limão, feijão entre outros.
Minha casa é situada numa pequena elevação de terra a beira da estrada de terra, é cercada por várias árvores. A leste, a casa é cercada por bananeiras e cafezais; ao sul, a plantação de chuchu de meu pai; a oeste tem algumas bananeiras, pés-de-acerola, um abacateiro, uns limoeiros, algumas goiabeiras, um pequena mata e a casa da minha prima; ao norte, há algumas bananeiras, mangueiras, um buraco enorme e a estrada de terra.
Do outro lado, tem uma enorme vila onde moram alguns dos meus tios. A vila é conhecida como Vila Gomes.
Até Março, eu era e vivia assim...
Estou no 3º ano do Ensino Médio, até outubro do ano passado, não sabia direito o que queria fazer depois após terminar o ensino médio. Já pensei em tanta coisa: enfermeiro, astrônomo, pintor, arqueólogo, desenhista, jornalista, escritor, caminhoneiro, padre (desisti, pois percebi que não consigo ser tão santo,..., kkk), e, por último, professor, porém minha professora me fez desistir da ideia. Eu e dois amigos, Wanderson e Wilton, estamos estudando pra entrar num colégio militar: Escola Preparatória de Cadetes do Ar (EPCAR). Se, por acaso, não passarmos iremos fazer de qualquer jeito o vestibular da Universidade Estadual do Vale do Acaraú (UVA) e o ENEM.
Já estou no 3º emprego (Sem carteira assinada, é claro! Pra falar a verdade, nem carteira eu tenho,..., kkk). Já trabalhei como professor de xadrez durante quatro meses em 2007. Em fevereiro de 2008, comecei a trabalhar na biblioteca da escola, que fica próxima a minha casa. Lá, alimentei a paixão que tinha pela Erlane uma menina por quem eu sou apaixonado, apesar de ela não corresponder. Conheci-a nas festas da igreja do sítio em que ela mora, Paud’arco. Fiz até um poema em homenagem a esse dia:
“Há no mundo alguém que amei,
Anjo do qual eu nunca esquecerei,
Rosto jovem e belo,
Tão linda, a primeira vez que eu te vi vestida de amarelo.”
16/06/2009
Ela me via apenas com amigo, pois tinha namorado. Quando descobri, confesso que fiquei abalado, mas fazer o quê? Eu podia matá-lo e esconder o corpo... kkk . Considerava-a como a pessoa certa pra mim. Então, enquanto eu não conseguia a mulher certa, divertia- me com as erradas, algumas namoradas da escola ou outras que conhecia nas festas, e assim a vida prosseguia.
Estou trabalhando com meu pai na venda de verduras e legumes que plantávamos, principalmente chuchu. No frio das madrugadas das quartas e sábados, levávamos várias caixas pra feira e vendíamos para os feirantes, conseguia um bom dinheiro com isso. Eu sempre guardava o dinheiro, pois sabia que, futuramente, me ajudaria bastante.
Sempre me considerei diferente de todo mundo (todos me chamavam de louco... kkk), não pelo fato de possuir um humor extravagante; tenho poucos amigos perto de casa (meus primos: Airton, Fernando, Orismar e Haroldo), não convivo muito com os demais, os mais velhos, pelo fato de beberem e os mais novos por eu achar que já estou bem “grandinho” pra ficar brincando com eles.
Confesso que já me envolvi com bebida alcoólica e cigarro. Quando eu tinha oito anos, fumei um cigarro. Até que é legal ficar soltando fumacinha, mas achei que não valia a pena ficar gastando dinheiro pra acabar com meu pulmão. A bebida entrou na minha vida no ano passado. Foi no mês de agosto, estava na época das propagandas eleitorais, alguns amigos me ofereceram bebida. Se fosse cerveja, eu não beberia, pois não suporto o cheiro. Era cachaça, bebi alguns goles, não cheguei a ficar bêbado. Bebi durante os meses de agosto e setembro nas campanhas. Sempre chegava em casa em estado sóbrio. Após as eleições, não bebi mais no ano de 2008. Então, veio 2009. Foi numa sexta-feira, no dia 09 de janeiro, às 17h30min, estava voltando da cidade de bicicleta, passando em frente a um bar, encontrei meu primo Eduardo e meu vizinho Mateus bebendo, chamaram-me pra beber, fui. Bebi um pouco e voltei pra casa. Tomei um banho e retornei ao bar. Bebi muito. Por volta das 19h30min, os três vinham cambaleando na estrada e gritando coisas sem noção. Lembro-me de pouca coisa: a mãe gritando comigo, perguntando quem havia me embriagado. Acordei às 4h00min da manhã. Saí pra trabalhar com meu pai na feira. Toda a vizinhança já sabia o ocorrido. Daquele dia em diante, nunca mais “toquei” em bebida.
Pra me diverti não preciso disso, gosto de ler, jogar vídeo game, estudar, pescar, nadar na cachoeira, brincar com meus animais, ouvir rádio, sair com meus amigos, falar besteira, desenhar, escrever, jogar xadrez e muito mais.
Adoro a natureza, gosto de ficar ao ar livre e andar pelo meu sítio. Subir em árvores, sentir o vento batendo em meu rosto. Sinto-me livre. Creio que estou mais perto de Deus assim, fui criado como católico, mas há coisas que não concordo só não me torno protestante, pois não concordo também com certas coisas. Costumo chamar-me apenas de cristão.
Quero apenas viver em paz, não me preocupo muito com o que pensam de mim. Tenho consciência de que não faço mal a ninguém.
Estudo na E.E.F.M. Farias Brito há seis anos, desde a 5º série. Sou bastante conhecido na escola. Gosto da escola, dos colegas e dos professores. Minha turma é o 3º Ano A
Meus colegas são o João Victor, Wilton, os Diegos, Marcelo, Jonas, João Batista, João Antônio, Marcos Vinícius e Toinho.
As meninas são a Tassiana, as três Jéssicas, Lourdes, Wanessa, Susana, Deisiane, Sueline, Lucimara, Shirley, Lourdes, Sergiana, Carminda, Fernanda, Keylla, Noemiza, Fattynha, Deuzinete, Ariela, Iara, Neiriane e Márcia.
Como em toda sala há sempre as panelinhas, na minha sala não foi diferente. Desinteressados no fundo da sala, as mais vaidosas de um lado, as demais do outro, nerds na frente, e no meio da sala, um pouco de cada. Eu sentava no meio, todos me consideravam nerd.
Meus fins de semana eram um pouco tediosos, odiava ficar assistindo TV. Queria um lugar pra ir passear. Meus colegas da escola quase sempre apareciam lá em casa. Costumava dormir fora nos fins de semana, ficava na cidade curtindo as festas. Quando ficava em casa, ia pra igreja, lanchonete ou cachoeira. À noite, ficava na calçada conversando com o meu primo Airton.
Ficávamos até 23hs30min da noite comentando sobre nossas vidas, namoradas, escola, amigos, o convívio em casa, problemas, dinheiro e, principalmente, sobre o que o futuro aguardava pra gente.
“Se eu sou o que sou, por que me importar com o que os outros dizem de mim? Em minha vida, mais vale a consciência do que a reputação.”