Se eu sou um poeta, dizem que eu vivo na contra-mão da vida. Eu mostro nas minhas palavras uma dor mais intensa do que a que eu realmente sinto. O mesmo acontece com a alegria que me contagia. Nós poetas idealizamos tudo: nossas vidas, nosso trabalho e nossos amores. Mas somos tão comuns como qualquer passageiro de ônibus que volta cansado para casa. Somos tão comuns como qualquer soldado que esteja batalhando nas trincheiras. Somos tão comuns como qualquer freguês comprando batatinhas na feira.
Se eu sou poeta, dizem que sou um louco vivendo neste mundo. Alguém que não demonstra tanta preocupação com o que se passa, apenas escreve pra perturbar a vida de estudantes e tem problemas diferentes de todo o mundo. Tenho sempre dinheiro na conta bancária e vivo gastando tomando bons drinks com os amigos. Nossos pecados não são tão graves e por isso não frequentamos à igreja. Deus já tem um lugar reservado para nós no paraíso porque tudo o que fizemos foi escrever e viver de maneira correta.
Eu sou poeta e tenho dívidas porque eu viajo muito,eu saio muito e não me preocupo em economizar. O céu pra mim nunca fui uma certeza, mas prefiro não me preocupar com ele agora. Tenho pessoas aqui perto que fazem da minha vida um paraíso. Boas ações são o que posso e quero fazer sempre e quando puder. Desculpa aí se eu não quero ir à igreja, mas em uma manhã de domingo eu queria estar ao lado de quem me faz bem no lugar mais lindo que estivesse ao nosso alcance. A minha dor é como a de qualquer outro ser humano que perde alguém que ama e minhas alegrias são retratadas em câmeras digitais e sendo compartilhadas na internet. Tudo o que eu faço de diferente é somente pegar um caneta no fim do dia e tentar disfarçar tudo isso numa folha de papel.
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