terça-feira, 24 de junho de 2014

Soneto das Lembranças Juvenis



Hoje eu durmo e penso nos laços e nós que constroem as vidas
Cada amor que colore e cada nó ou aperto que as fazem cinzas
Nas formas, nas canções, complexidade tais bilhetes suicidas
Cada beijo, cada tapa, olhares ternos, calorosos e ranzinzas

Na paisagem, horários e no abraço, último olhar de despedida
Pensamentos que escapam pela janela por entre essas rodovias
Voltas sob as estrelas, pegadas na areia e a maresia sentida
Nosso retrato, nas madrugadas acordados, iguais manhãs frias

Do silêncio compreendido em oposição, alguma risada provocada
Pelo alcool, por nada, piada, desgraça ou exageradas e tantas
Do trote que tonto eu corro buscando cédulas ou moeda trocada

Da ferida que te deixo, da cara que fazemos!... Ah! e quantas
De toda memória ou palavra que em alguma hora fora eternizada
De lembranças que rego o passado igual faço às minhas plantas.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Futuro

O que há por trás detrás da colina?
De costas pra cabine, só vejo a janela
Corre o trem, ora desce, ora empina
Caminho turbulento, estrada singela.

sábado, 10 de maio de 2014

Soneto de Obsessão

Se por um dia me sobe à cabeça o prejuízo
Tal como uma coisa registrada em cartório
Possesso, desvairado, esgota todo o juízo
Dita a perda, urro, xingo, enceno velório

Comando e ponho guardas a todas fronteiras
Vou colocar em teu corpo, quiçá, o cadeado
Deixando encurralado de mil e uma maneiras
Fica, assim, quieto, silencioso e amarrado 

Contra os invisíveis, a guerra tá declarada
O perigo se remonta aos graus de insanidade
Incansavelmente, toda a baliza será vigiada


Decreto irracionais ordens contra liberdade
A camisa de força vai em mim sendo adornada
Mergulhado nessa tal loucura de propriedade

Orgulho

Perigosa casca que brilha
Disfarçada de escudo protetor
Mãe da dor e da dor é filha
Mascarada no seu próprio amor
Fora dela, à ilusão se humilha
Agudos espinhos a sufocar a flor

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Incerta Certeza

Não, mas vou fingindo que sim
Sim, mas já não te interessa
Ao divagar, vai sendo assim
Vou devagar mas eu tenho pressa

A correnteza do tempo a me arrastar
Futuro incerto, incerto maldito
E sua máscara a sair do lugar
De só dizer o que não havia dito.

O talvez é o que resta
E se me sobra o sumiço
Nada de crise, nada de festa
Há coragem pra isso?

Impoe-me uma barreira de dor
Inquieta-me o medo do vazio
A maçaneta me rouba o calor
Atrás da porta, mistério frio

Fio de esperança
Desencapado
Choque de realidade
Eletrocutado

Solidão da cidade
Realidade concreta
Besteira da idade
Cada palavra soletra

Tique-taque...é a torturante hora que passa
Sem sentido, instantes passam a modo grosso
Tornando menor o espaço, devorado pela traça
E só aumenta o peso pendente acima do pescoço

Passo ligeiro com relógio estacionado
Em um diálogo infinito de um x oculto
Ponteiro incessante no sujeito parado
Desinteresse traduzido em assunto curto

Véu de metáforas sombrias
Contido e preso na caneta
Escondendo verdades frias
Misturadas à tinta preta

Subindo o monte  por uma infinita curva
Sem ar, a vertigem vai me deixando tonto
Pra mais ou pra menos, mera ilusão turva
Ao final de três, resume-se tudo a um ponto.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Remorso

Foi logo ali na ponte que une
E que agora é sinal que me pune
Grande mal de cortar um coração
Simbolo de nossa separação
Entre ornitorrincos e xaropes
Lepo-lepos e Potocs
Ah, Carnaval de perfeição
Eu tinha tudo ali na minha mão
Tolo estúpido, ai como eu sinto
Dói demais, não minto
Eu que sou o culpado
O vilão descarado
E agora o arrependimento
Pior sentimento
Eu tento esquecer, eu forço
Esse ácido na alma é meu remorso
Devolve-me a calma, oh tempo
Devolve meu contentamento
E você de volta, talvez
Mesmo que por um mês
Pra mim, você já é eterno
Me retira aqui desse inferno
Há algo ainda que se faça
Depois de uma estupidez devassa?
Creio que não, acho que não
Te perdi, joguei fora teu coração.

(6/3/2014)